sexta-feira, 14 de agosto de 2009

BEM-VINDOS

1 comentário:

  1. Seguindo o casario,
    qual lençol,
    o rio deslizando.
    The white Chagall:
    MA JOIE!
    -
    Gotas de água
    por escorridos vidros;
    a rubro raiado poente.
    -
    Semblantes sumidos
    sob chapéus-de-chuva.
    -
    Repetidamente
    a paragem do eléctrico,
    imagem mesma
    repassada,
    sonho nada.
    -
    Madame Maar,
    olhos tortos
    esgotando-se;
    sons prolongando-se;
    um rosto maior
    do que um livro;
    uma torneira ininterrupta.
    -
    P’lo tempo revolvido no olvido,
    contarei as loucuras possíveis,
    os enredos, p’los teus dedos, sim,
    p’los teus dedos lã.
    Ficaremos os dois, os sons, os ossos,
    em arco abrindo-se-nos os braços.
    -
    Ah,
    teu devastado olhar
    fixa o demorado mar,
    revolto o vento.
    -
    Os jogos infinitos,
    borboletas adejando
    vãs tonturas.
    -
    Teia de aranha
    na parede esburacada,
    um canto, desperdícios,
    uma aldeia em Trás-os-Montes.
    As bicicletas não andam.
    A humildade é um verme familiar.
    Com cerveja e fadiga ideamos vaguear.
    -
    Sombra intocada
    num papel
    sem nada,
    bermas à luz falsa,
    as costelas partidas,
    publicação a se7e cores.
    -
    Nem o abandono inútil,
    os pés adormecidos ao peso,
    a desolação imensamente plana,
    a apatia sem nenhuma saída,
    o travesseiro dos bons dias
    muito obrigados,
    os dedos na queda,
    os tectos para o pavor;
    as crianças não têm culpa
    d’entrementes cabecearem tontos sonos.
    -
    A periferia dos tubos,
    e um peixe.
    Os círculos fechados,
    o ateado cristal.
    -
    Para a mulher povo, que não é notícia,
    queria uma canção com as mãos dadas.
    Quem me cerrou numa esfera de azedeza?
    Deixassem-me ignorante, saberia uma canção,
    sem nome uma canção, braços, ancinhos,
    arados em riste.
    -
    Acontece-me ficar sentado a tarde toda,
    a refazer os gestos gastos.
    -
    Páscoa
    a morrer sonos com flores,
    ecoando vãos p’las grandes casas.
    -
    Mulher,
    levei toda a manhã
    a sonhar tua viagem.
    Tu és o meu poema.
    -
    Dorme sereno
    no plano fundo
    do lago o sono brando
    do Outono o abandono.
    -
    Perdeu o nome a existência, disco rolando incansável.
    Na aguarela do Mendão a praia em ébria insolação.
    -
    Alegria de Amar:
    Os noivos na madrugada
    deitaram fora os poemas:
    Tinham resolvido o amor,
    as janelas rasgadas:
    Resolveram,
    decididamente resolveram.
    Os olhos ventoinhas denunciam terra.
    Não faz bem às pessoas certas ver nudez.
    Morderiam as bocas todos os dias.
    Encontraram-se a primeira vez sós num espaço.
    (das Cidades de Israel)
    Angelo Ochoa, com meus parabéns a João Nunes, por acervo net de nossas terras boas!

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