Seguindo o casario, qual lençol, o rio deslizando. The white Chagall: MA JOIE! - Gotas de água por escorridos vidros; a rubro raiado poente. - Semblantes sumidos sob chapéus-de-chuva. - Repetidamente a paragem do eléctrico, imagem mesma repassada, sonho nada. - Madame Maar, olhos tortos esgotando-se; sons prolongando-se; um rosto maior do que um livro; uma torneira ininterrupta. - P’lo tempo revolvido no olvido, contarei as loucuras possíveis, os enredos, p’los teus dedos, sim, p’los teus dedos lã. Ficaremos os dois, os sons, os ossos, em arco abrindo-se-nos os braços. - Ah, teu devastado olhar fixa o demorado mar, revolto o vento. - Os jogos infinitos, borboletas adejando vãs tonturas. - Teia de aranha na parede esburacada, um canto, desperdícios, uma aldeia em Trás-os-Montes. As bicicletas não andam. A humildade é um verme familiar. Com cerveja e fadiga ideamos vaguear. - Sombra intocada num papel sem nada, bermas à luz falsa, as costelas partidas, publicação a se7e cores. - Nem o abandono inútil, os pés adormecidos ao peso, a desolação imensamente plana, a apatia sem nenhuma saída, o travesseiro dos bons dias muito obrigados, os dedos na queda, os tectos para o pavor; as crianças não têm culpa d’entrementes cabecearem tontos sonos. - A periferia dos tubos, e um peixe. Os círculos fechados, o ateado cristal. - Para a mulher povo, que não é notícia, queria uma canção com as mãos dadas. Quem me cerrou numa esfera de azedeza? Deixassem-me ignorante, saberia uma canção, sem nome uma canção, braços, ancinhos, arados em riste. - Acontece-me ficar sentado a tarde toda, a refazer os gestos gastos. - Páscoa a morrer sonos com flores, ecoando vãos p’las grandes casas. - Mulher, levei toda a manhã a sonhar tua viagem. Tu és o meu poema. - Dorme sereno no plano fundo do lago o sono brando do Outono o abandono. - Perdeu o nome a existência, disco rolando incansável. Na aguarela do Mendão a praia em ébria insolação. - Alegria de Amar: Os noivos na madrugada deitaram fora os poemas: Tinham resolvido o amor, as janelas rasgadas: Resolveram, decididamente resolveram. Os olhos ventoinhas denunciam terra. Não faz bem às pessoas certas ver nudez. Morderiam as bocas todos os dias. Encontraram-se a primeira vez sós num espaço. (das Cidades de Israel) Angelo Ochoa, com meus parabéns a João Nunes, por acervo net de nossas terras boas!
Seguindo o casario,
ResponderEliminarqual lençol,
o rio deslizando.
The white Chagall:
MA JOIE!
-
Gotas de água
por escorridos vidros;
a rubro raiado poente.
-
Semblantes sumidos
sob chapéus-de-chuva.
-
Repetidamente
a paragem do eléctrico,
imagem mesma
repassada,
sonho nada.
-
Madame Maar,
olhos tortos
esgotando-se;
sons prolongando-se;
um rosto maior
do que um livro;
uma torneira ininterrupta.
-
P’lo tempo revolvido no olvido,
contarei as loucuras possíveis,
os enredos, p’los teus dedos, sim,
p’los teus dedos lã.
Ficaremos os dois, os sons, os ossos,
em arco abrindo-se-nos os braços.
-
Ah,
teu devastado olhar
fixa o demorado mar,
revolto o vento.
-
Os jogos infinitos,
borboletas adejando
vãs tonturas.
-
Teia de aranha
na parede esburacada,
um canto, desperdícios,
uma aldeia em Trás-os-Montes.
As bicicletas não andam.
A humildade é um verme familiar.
Com cerveja e fadiga ideamos vaguear.
-
Sombra intocada
num papel
sem nada,
bermas à luz falsa,
as costelas partidas,
publicação a se7e cores.
-
Nem o abandono inútil,
os pés adormecidos ao peso,
a desolação imensamente plana,
a apatia sem nenhuma saída,
o travesseiro dos bons dias
muito obrigados,
os dedos na queda,
os tectos para o pavor;
as crianças não têm culpa
d’entrementes cabecearem tontos sonos.
-
A periferia dos tubos,
e um peixe.
Os círculos fechados,
o ateado cristal.
-
Para a mulher povo, que não é notícia,
queria uma canção com as mãos dadas.
Quem me cerrou numa esfera de azedeza?
Deixassem-me ignorante, saberia uma canção,
sem nome uma canção, braços, ancinhos,
arados em riste.
-
Acontece-me ficar sentado a tarde toda,
a refazer os gestos gastos.
-
Páscoa
a morrer sonos com flores,
ecoando vãos p’las grandes casas.
-
Mulher,
levei toda a manhã
a sonhar tua viagem.
Tu és o meu poema.
-
Dorme sereno
no plano fundo
do lago o sono brando
do Outono o abandono.
-
Perdeu o nome a existência, disco rolando incansável.
Na aguarela do Mendão a praia em ébria insolação.
-
Alegria de Amar:
Os noivos na madrugada
deitaram fora os poemas:
Tinham resolvido o amor,
as janelas rasgadas:
Resolveram,
decididamente resolveram.
Os olhos ventoinhas denunciam terra.
Não faz bem às pessoas certas ver nudez.
Morderiam as bocas todos os dias.
Encontraram-se a primeira vez sós num espaço.
(das Cidades de Israel)
Angelo Ochoa, com meus parabéns a João Nunes, por acervo net de nossas terras boas!